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Vejam-me... mas não olhem para mim

Abundo em desejo, mas falta-me o dom. Talvez me falte o propósito ou o conhecimento. Sinto que tudo o que sai é oco, vazio, desprovido de valor. Tantas palavras para não dizer nada.

Enquanto escrevo o meu corpo grita, chora com desespero, com vergonha, com a consciência do nada e implora-me que pare... mas o desejo é mais forte.


"Se falhares, falhaste, para a próxima falhas melhor!"

Eu não quero falhar, quero acertar em cheio, quero que me aplaudam de pé e que fiquem extasiados comigo, com sede de mim. Por isso, escondo-me, prefiro fingir que não sou nada, do que descobrir que não sou nada. A dor é diferente, cabe cá dentro e a esperança tem espaço para respirar.


E se eu não fôr nada? e se eu fôr alguma coisa? Se houvesse uma maneiro de o descobrir sem me partir, sem ser sugada até ficar ressequida. Sei que os olhos são muitos, as expectativas são altas. Parece que interpretei mal o papel da Sra. Nada, o desejo vestiu-me a rigor e gritou que eu sou capaz, que eu sou alguém... Tramou-me, levou-me ao palco e abandonou-me... e agora quero sair e não posso, estou congelada, não abro a boca, o pensamento fugiu. Queria evaporar, desaparecer. Ou então não quero, gosto das luzes a aquecer-me a pele, gosto de ver tantos olhos fixados em mim. Como é possível desejar o que mais me assusta?


Vejam-me... mas não olhem para mim.

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